6.10.07

Para permanecer igual



Nessa altura, você só ouvira um álbum de Bruce Springsteen por dois motivos: ou você conhece a obra do sujeito e a admira, ou você ficou curioso para saber de onde saiu a inspiração de Brandon Flowers para compor o último álbum do Killers.

Para quem participa do primeiro grupo, um álbum de Bruce Springsteen quase sempre será um bom álbum de Bruce Springsteen. Já que The Boss (como ele é conhecido nas bandas de lá, você sabe) mantém um estilo de composição que remói sempre os mesmos temas (a utopia da liberdade, o sentimento de patriotismo, um tipo meio ingênuo de inconformismo político, a defesa de heróis injustiçados da América) como quem não precisa fazer muito além de revestir um repertório de obsessões com novos contextos. Funciona, já que o mundo muda e permanece igual.

Exemplo: The Rising, o álbum sobre o 11 de setembro, poderia muito bem ter sido lançado no final dos anos 1960. Seria um belo manifesto anti-Guerra do Vietnã.

Já para o público mais novo, mais curioso, que pretende descobrir o que é que Bruce tem, Magic (**) soará como um álbum frustrante, incurável de tão nostálgico. O discurso de Bruce pode não envelhecer nunca - já que é calcado na simplicidade de símbolos universais -, mas o que deve provocar incômodo nos fãs de Killers (e de Hold Steady, e de Against Me!, e até do Wallflowers) é como o compositor trabalha dentro de um universo musical que também muda muito pouco. Que parece até ter preguiça de sair do lugar. Daí a sensação de ouvirmos este álbum como quem sintoniza uma estação de flashbacks. Quando o primeiro solo de saxofone entrar no meio da primeira faixa, Radio nowhere, você entenderá o que digo.

Mais que qualquer álbum recente de Bruce, Magic é o que exige ser colocado ao lado de "clássicos" (entre aspas, já que depende da forma como você encara o chefão) como The River e Born in the USA. É como se, cansado de tentar aventuras conceituais (The Ghost of Tom Joad) ou arqueológicas (We Shall Overcome), Bruce tivesse preferido jogar o próprio jogo. Por isso, lembra muito All That You Can't Leave Behind - momento em que o U2 decidiu gravar o álbum que o público mais relapso, mais saudoso, esperava do U2.

Há quem prefira esse tipo de estratégia. Como em poucas vezes, a Rolling Stone carimbou o disco com cinco estrelinhas. Seria um clássico? Talvez, dirá o fã do Killers, se tivesse sido lançado em 1982.

Nas letras, Bruce ataca as guerras (do Iraque, no caso), atira farpas contra a administração Bush, faz (mais uma?) ode aos soldados e até compõe um belo diálogo entre pai e filho (em Long walk home) em que ensina os valores básicos de um cidadão norte-americano. "Olhe para a bandeira", pede o pai. E fala sério.

Nos arranjos, Bruce é conservador. Francamente conservador. Ao lado da E Street Band e do produtor Brendan O' Brien, faz o álbum mais recente do Hold Steady soar como vanguarda. É possível prever cada passo do disco. Os arranjos à Beach Boys de Your own worst enemy, o clima oitentista de Livin in the future e os cantos sombrios de Devil's arcade. São belas canções, que melhoram a cada audição, e fazem ainda mais efeito quando se aceita a arte de Bruce dentro dos parâmetros dela.

Satisfaz? Em termos. Até o próximo disco do U2, os progressistas mais ultrapassados terão uma trilha sonora a que recorrer. Rebelde sem ousadia, Magic equivale a um filme decente dirigido por Ken Loach.

O álbum Magic foi lançado semana passada pela Columbia Records.

Ouça! Radio nowhere, no My Space.

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