17.10.07

Preto e branco em cores



Quando uma banda confiável avisa que vai mudar tudo, tema. Às vezes o resultado é positivo de arrancar lágrimas (e lembre-se que os Beatles, por exemplo, mudavam tudo a todo momento), mas há aquele tipo de banda que simplesmente não sabe viver fora do quartinho confortável que criou para habitar. É o que mais tem, aliás.

Qual seria o caso do Hives? Escolha de que lado você quer ficar, já que o momento é agora. The Black and White Album (**, e eu fico meio em cima do muro, admito), que chega às lojas só no início de novembro, é o "projeto ambicioso" dos suecos. O álbum com "desvios de rota". O disco que mira uma certa "diversidade de estilos". A "ruptura". Isso e todas aquelas promessas que dão arrepios em todos nós.

Lembra o que aconteceu com o Strokes no terceiro disco? Pois bem. Eu, pelo menos, ainda não consegui engolir aquelas primeiras impressões do planeta Terra (e ainda prefiro as segundas impressões de Nova York).

O Hives poderia sim ter cometido esse tipo de ousadia disparatada e sem-noção, mas o terceiro álbum do quinteto é um pouco mais cuidadoso. Na tradição de um Today!, do Beach Boys (mas só na tradição, que fique claro), o disco é pizza meio-a-meio. Até a quinta fatia, é aquilo que esperávamos deles, quase literalmente. As faixas que tocarão na festinha mais próxima estão nesse bololô: Tick tick boom, Try it again, You got it all...wrong cumprem a função direitinho. Mas, se eles tivessem feito um álbum inteiro só disso, teriam recebido as mais cabeludas acusações. Conformados! Repetitivos!

Daí a necessidade de uma piração instrumental como A Stroll Through Hive Manor Corridors, que parece saída de um álbum do The Coral (e, sério, não me diz nada). Ou de buscar novos ares dentro do formato verso-refrão-verso. Aí o resultado é aquilo que prevíamos mesmo: um balaio de gatos.

Gravado em oito estúdios por sete produtores (entre eles, Pharrell Williams), o disco às vezes lembra The Killers (It won't be long), às vezes se aproxima com o que tipo de crossover com o pop radiofônico que o Hot Hot Heat tentou no álbum mais recente. Na maior parte do tempo, eles tentam. Tentam e tentam. Tentam uma canção só com "piano e palmas", uma com órgão dos anos 60 e bateria eletrônica. Uma virou trilha de comercial da Nike - outra, de vinheta do Cartoon Network.

Poucos passos arriscados chegam a incomodar (e eu adoro Square one here I come), poucos parecem terrivelmente deslocados no pacote. Mas tente comparar a primeira parte do disco com a segunda: no início está aquela banda que já conhecemos, presa a um formato saturado; no fim, essa mesma banda tenta se libertar do próprio cercadinho com a estratégia de atirar para todos os lados. É álbum de transição, certo, mas eu não sei ainda para onde eles estão indo. E, sim, morro de medo de saber.

O disco The Black and White Album será lançado em novembro pela Interscope.

Ouça! Tick tick boom, no MySpace

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