30.9.07

O homem da caverna



Eu poderia estar aqui analisando (com bastante atraso) a história da sex tape de Meg White, eu poderia estar fazendo graça do site falso que criaram para divulgar o sétimo álbum do Radiohead, eu poderia estar roubando, eu poderia estar matando. Poderia. Mas vamos falar de música, vamos?

Eis a grande dificuldade de incluir o Iron and Wine em qualquer assunto. Em qualquer blog. Em qualquer rodinha de conversa Como encontrar um gancho, uma conexão entre as melodias de Sam Bean e este mundo doido em que vivemos? Não dá. Ele não bate perna com a Britney Spears. Ele não está na trilha sonora de Grey's Anatomy. Se bobear, ele nem sabe o que é Grey's Anatomy. O sujeito parece habitar uma caverna numa fazenda na Califórnia. De onde sai regularmente para contar-nos como é a vida lá dentro.

Estado das coisas: no momento em que até o folk surtou, e caiu no liquidificador psicodélico de um Animal Collective (ou de um Devendra Banhart), Bean ainda vive na época em que Bonnie "Prince" Billy era cotado como um provável mártir do indie rock. E que Nick Drake... Bem, Nick Drake era Deus.

O terceiro álbum do Iron and Wine, The Shepherd's Dog (**), há de receber elogios entusiasmados de quem sente saudades dessa época mais ou menos recente. Com mais fome que o próprio Billy, Bean se esforça para buscar novos caminhos, diversificar a própria sonoridade, refinar a produção e assim, quem sabe, chegar a um público que está em outras ondas. Tem até uma faixa, chamada Wolves, que inclui um certo acento dub-doidão na estética discreta do moço.

Mas (e esse conflito é interessante, notem) Bean tenta expandir a própria caverna sem aborrecer os antigos frequentadores do nicho. Curioso como é nesse remake de obras anteriores onde o álbum mais acerta: em baladas lindas como Ressurection Fern e Carousel - tristes toda vida, simples o suficiente para frisar o tom melancólico da voz de Bean. Quando tenta algo que vá além desse tipo de lamento solitário, ele também acerta. Mas o fato é: o trovador não precisa mais que isso.

E até ele deve saber que, hoje em dia, ampliar o próprio habitat pode ser esforço em vão. Aí mora o lado complicado da história: o Iron and Wine parece fadado a gravar álbuns cada vez mais belos e acessíveis. A questão é: alguém ainda se interessará por eles?

O álbum The Shepherd's Dog foi lançado semana passada pela Sub Pop.

Ouça! O álbum todo, no MySpace.

Nenhum comentário: