2.9.07

Recomeçar? Nunca é fácil



Outro blog? Como assim? De novo?

Não, ninguém me fez essas três perguntas desesperadas. Eu mesmo as fiz. A mim mesmo. Há uma semana, pensei em criar um blog. Depois, pensei em desistir da idéia. Passaram dois dias e, finalmente, desisti da loucura. Dormi, tive três pesadelos, acordei, tomei café e já queria um outro blog para mim.

Assim, com essa rapidez.

Deve ser algum tipo de obsessão, vá saber. Um trauma de infância, uma questão de vidas passadas, algo esotérico, metafísico. Um drama qualquer. Meu filme, se eu tivesse um? Tiago Superoito, o homem que cria blogs. Meu livro autobiográfico? Uma vida em dezesseis blogs.

Eu odeio blogs, eu amo blogs, eu odeio blogs, eu amo blogs.

Façamos as contas. Comecei essa mirabolante jornada com o (para alguns) saudoso Também pode ser Dumbo, um site muito tosco e muito auto-depreciativo sobre um adolescente tardio perdido na selva dos amores platônicos. Um lixo. Depois, Cego no tiroteio, em que esse mesmo herói teen escrevia com ainda mais dedicação sobre filmes, discos e mulheres exageradamente indecisas.

Era eu. Ainda me envergonho do meu passado.

As duas experiências me ensinaram que escrever um blog significa assumir certas responsabilidades perante os outros. Quando você decide escrever tudo o que pensa, tudo-absolutamente-tudo, sobre uma determinada pessoa e essa determinada pessoa descobre seu blog, a bomba explode: você deseja não ter nascido. É só um exemplo.

O impacto que textos constrangedores provocaram em minha vidinha não me ensinou nada. Infelizmente, minha cabeça é de pedregulho. Criei o sofrido Blog da zona morta, e depois o sofrível Superoito, que seguiu por algumas temporadas (três?) entre momentos de entediante alegria e espasmos de agonia e morreu quando descobriram que... quando descobriram que o autor daquele divã eletrônico era eu. Simples. E trágico. Uma tragediazinha meio existencial.

Foi complicado.

Durante esse tempo todo, matutei sobre criar um blog de música, só sobre música - sem cinema, sem séries de tevê, sem mulheres-que-dizem-talvez, sem nenhum acessório. Música e só música. Desde que me entendo por gente, música é minha vida. Tanto quanto cinema. Talvez mais.

Perguntem a minha mãe. Ela dirá:

"Tiago foi alfabetizado com capas de discos. Aprendeu a letra D num disco do Djavan, a letra A com A Cor do Som" (e eu sempre choro quando ouço essa história. Menos por causa do meu incrível talento precoce para interpretar o mercado fonográfico, mais pelo tenebroso gosto musical desse guri metido a besta)

Acontece que, durante esse tempo todo, durante esses blogs todos, sempre duvidei da idéia de escrever um blog sobre música. Principal problema: quem leria um site assim? Além se importaria? Não seria um caso óbvio de "oh well, whatever, nevermind"? Quando eu escrevia sobre cinema (e era relativamente apoiado por uma liga pequena mas dedicada de leitores), tentava embarcar de gaiato nos meus blogs algum cometário sobre discos, bandas obscuras, figurões à Coldplay. Todos fracassavam. Ibope baixíssimo. Não havia como apostar numa idéia dessas. Escrever para ninguém? Por quê?

Hoje, em um dos períodos mais complicados da minha vida (digamos que o herói adolescente tardio perdeu praticamente tudo - a mulher indecisa, muitos dos amigos, quase todos os planos de futuro - e tenta reconstruir o que era doce e se quebrou), recebi o sinal. Entendi o chamado. Era uma luz verde-fluorescente. Ela implorava: crie seu blog de música. E eu retrucava: mas para quem? E ela me chicoteava com as palavras: para você, seu imbecil!

Então taí: um blog de música, finalmente. Que se chama O GRUDE, em homenagem às canções que prendem feito chiclete em nossas vidas e, de certa forma, também à minha lamentável personalidade insuportavelmente grudenta. E um blog de música para mim, escrito na esperança de encontrar quem também se alfabetizou um pouco a partir de acordes, um pouco a partir de solos de bateria, um pouco a partir de nomes de bandas, um pouco a partir de solos de guitarra, um pouco a partir de videoclipes, um pouco a partir de shows inesquecíveis.

Meus comentários de filmes continuam no antigo site, para quem se interessar por eles. E, para esta aventura musical rumo ao desconhecido, aceito colaborações, pitacos, dicas e tudo mais (tem um e-mail ali ao lado, sintam-se em casa). E comentários, vocês sabem, é a gasolina de todo blog.

Mais um blog? Considere assim: este é uma espécie de seriado caduco na tentativa de se reerguer em plena décima temporada. Tem tudo para dar errado? Às vezes funciona.

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