6.9.07

Quem é o inimigo?



Depois de umas quinhentas reformulações gráficas, o semanário inglês velho-de-guerra New Musical Express (que também atende por NME, leia ên-ê-mi) inventou uma listinha de álbuns que estão quentes, oh tão quentes, no momento.

(Eu, que sou carioca e malandro, não compro o jornalzinho, mas dou uma espiada de vez em quando na megastore mais próxima. Sou dos que acreditam que, de 2000 em diante, esse artigo importado inflacionado passou a não valer nem R$ 1.)

Vocês sabem que a publicação adora descobrir, de cinco em cinco dias, a maior banda britânica de todos os tempos. Exatamente por isso, é engraçado como o primeiro álbum do The Enemy, We'll Live and Die in These Towns (**), permanece firme no primeiro lugar desse top 10 por sei lá quantas semanas. Impressionante.

Seriam os novos Arctic Monkeys? Os novos Klaxons? Não se sabe. O que se sabe é que a NME está investindo pesado nesse trio teen (o vocalista tem 18 anos) de Coventry. São chamados de heróis da classe operária. São comparados ao Oasis. Roubaram dos Chemical Brothers o primeiro lugar nas paradas da ilha. Tá bom ou quer mais?

Não sem alguma resistência, finalmente cheguei a esse tão badalado álbum de estréia. E não posso dizer que caí da cadeira de tanta emoção. Nem que detonei a cadeira de tanta fúria. É um disquinho até bem competente, ainda que prove como os ingleses estão estagnados num formato de revival do pós-punk que parece não ter mais para onde correr.

O resenhista da NME está certo: eles agradam pela franqueza como narram historinhas de um cotidiano duro, de subempregos e romances fracassados (o mesmo universo do Arctic Monkeys, do início do Oasis, do Libertines, do Hard-Fi etc). Tudo devidamente empacotado em refrões movidos a energético no esquemão "uê-a êa ôô" e "ê-ah ê-ah ô-ô".

Na faixa-título, pelo menos, eles se arriscam a vencer essa fórmula de sucesso e prestígio na Inglaterra. É uma canção tão mais sofisticada e emotiva que chega a destoar do restante do disco - que, mesmo óbvio até a medula, rende alguns hits de pista como Away from here e 40 days and 40 nights.

O problema não está com o Enemy, uma banda ok que ainda tem muito a crescer. Mas com o NME, que está fazendo direitinho o serviço de reduzir o rock inglês a níveis gritantes de mediocridade.

O álbum We'll Live and Die in These Towns foi lançado na Inglaterra pela Warner.

Ouça! Away from here, no My Space

6 comentários:

Anônimo disse...

a NME é engraçada mesmo. no começo do ano babaram o ovo daquele the view e o disco era uma droga e hoje ninguém mais se lembra deles.

Tiago Superoito disse...

Pois é. Cada mês fazem uma nova vítima.

Anônimo disse...

E eu cansei desses salvadores do rock que surgem de 15 em 15 minutos. É claro que existem bandas como Klaxons, que são hype mas cumprem as expectativas (o "Myths..." é um ótimo disco) ou um Arctic Monkeys, que faz um belo segundo disco quando quase todo mundo (pelo menos eu) esperava uma merda.

Mas concordo quando você diz que o problema está em uma determinada parte da crítica musical, que, se ajuda essas bandas comercialmente, acaba comprometendo-as artisticamente.

Tiago Superoito disse...

Sim, na Inglaterra isso é gritante pq a NME praticamente monopoliza o ramo (a Uncut é pra público um pouco mais velho, a Melody Maker acabou) e dita as "tendências". Eleva as bandas novas às alturas e, se isso é bom pra alimentar a cena, pode ser horrível pra grupos que ainda não têm muito estofo pra cumprir expectativas altas. Veja o que rolou com a geração Kaiser Chiefs/Bloc Party/ Maximo Park/The Rakes. Foi bem isso.

Diego Maia disse...

A pronúncia de "NME" é praticamente a mesma de "Enemy".

A geração "Kaiser Chiefs/... The Rakes" não durou mesmo dois discos (com exceção do Bloc Party, que manteve alguma decência). Uma espécie de coito interrompido.

Tiago Superoito disse...

Pois é, Diego, eu quis fazer essa relação mesmo.